Anita vai pôr gasolina

Na realidade não foi a Anita mas sim o Gervásio.

Hoje comentava para comigo "epah, isto anda fraquinho para o blog...". Ironia...

Perguntaram-me ontem como estava o depósito do carro, "mesmo que esteja a meio é melhor ires atestar". Feito parvo, e porque de manhã ouvi que a greve tinha sido suspensa, decidi não ir. À noite, ao ver as notícias, percebi que a minha decisão tinha sido um erro e assim que jantei fui pôr gasolina...

Ao estar parado na curva que leva à bomba fiquei descansado. O trânsito fluia sem problemas e parecia tudo pacífico. Assim que fiz a curva descobri que a bomba estava cheia... meti-me na fila e aguardei.

Não demorou muito até entrar no "recinto" na bomba. Apesar de tudo estavam a ser eficientes e a despachar os clientes com rapidez... Mais tarde percebi que essa rapidez derivava do facto do gasóleo e da 95 estarem esgotadas...

Consciente que a duração da greve é uma incógnita e que por motivos diversos preciso de ter a garantia que me consigo movimentar, pelo menos, na próxima semana [como julgo que acontece com a maioria] resisti com bravura, enquanto rezava que a Gforce 95 não acabasse enquanto eu estava a ali [como esteve "quase" para acontecer].

Estava tudo em paz. Ao longe a claridade desvanecia-se, num suspiro prolongado. [linda, esta frase.] Foi então que um Polo entra pela bomba a dentro, pára num minuto de indecisão e mete-se atrás de um carro, passado à frente de toda a gente.

Meus caros, mais depressa que a gasolina a arder só a fúria popular. Ao ínicio saiu uma senhora que estava à minha frente e, virando-se para trás incitanto as hostes diz:

"Eu nem sou destas coisas, mas esta senhora passou-me à frente!!!!"

"O quê?? Ela nem pense que vai pôr, ai não vai não!!!"

E pelos vistos a tal senhora estava determinada. A determinação desvaneceu-se assim que quatro ou cinco pessoas se juntaram junto ao carro dela refilar...

Ao voltar para o seu carro, um dos senhores que mais gritava o "ai não vai não", com os seus chinelos e calções vindos da praia ainda comentou com uma pronúncia perfeita:

"É mesmo à português..." ...?

Depois de alguns minutos de espera chega a minha vez que escolher a bomba para encher. Pus-me atrás de um senhor com um Mercedes já antigo. E aguardei. E continuei a aguardar. E assim fiz durante mais 20 minutos. Sim.

O senhor estava um pouco desesperado. Mesmo sabendo que já --não-- havia gasóleo tentava desesperadamente encher o depósito. Ainda conseguiu 25 lts até que a senhora que estava atrás de mim foi muito simpaticamente perguntar-lhe "se ainda demorava muito". Encheu o resto com Gforce diesel e foi-se embora.

Durante esses 20 minutos não perdi tempo. Fui fazer um reconhecimento a ver se ainda havia Gforce 95. É então que apanho um susto. Uma senhora [reparo agora que era só senhoras...] vira-se para mim e diz... "isto não está a funcionar". E ao longe oiço outro senhor a chamar um funcionário a reclamar do mesmo, também da Gforce95. E sim, por mais que se tentasse não saía uma gota em nenhum sitio. Comecei a ver a minha vida a andar para trás, até porque de várias conversas já tinha percebido que já poucas bombas restavam com combustivel...

"Já reiniciamos o sistema, tentem outra vez". E uma sensação de alívio apoderou-se de mim...

Ao ir pagar um senhor da bomba diz-me: "Não falta muito para fecharmos. Já só temos Gforce e mesmo essa está a acabar. Em Telheiras fecharam às 3 da tarde."

E fui para casa a pensar que dias são estes. Não deixa de ser extremamente irónico que à oito dias se espalhasse a mensagem de "não abasteça na Galp, BP ou Repsol nos dias 1, 2 e 3" e hoje tenhamos que ir a correr.