Texto e contexto

Cheguei a publicar neste blog alguns textos com o objectivo de mostrar que o mais provável é cometer-se um erro quando as conclusões parecem óbvias - um tema antigo que debatia recorrentemente - já que muitas vezes não é possível conhecer/interpretar devidamente o contexto.

Vem este comentário a propósito de uma notícia que li esta semana sobre o encerramento da maior lixeira a céu aberto do mundo, a lixeira de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.

Noutras circunstâncias, o mais provável seria ler o título da notícia e passar por cima - o título parece conter toda a informação relevante e o assunto parece banal. Mas desta vez marquei-a para ler.

No passado mês de Dezembro fui ao CCB (na melhor das companhias!) ver uma exposição do artista plástico brasileiro Vik Muniz. Foi uma exposição incrível que apresenta a obra de um artista sem barreiras: de qualquer material ele é capaz de criar.

Num dos seus trabalhos deslocou-se precisamente à lixeira do Rio de Janeiro, onde acompanhou, durante 3 anos, os catadores - assim chamam aos trabalhadores. A obra - cujas fotos podem encontrar na net - é muito boa, mas só consegui perceber verdadeiramente o alcance do trabalho depois de ter visto um documentário feito, precisamente, sobre o Vik Muniz e o Jardim Gramacho.

O documentário - Wasteland - dá-nos a conhecer uma vida - de miséria - que está muito para além da nossa realidade. Pela força das imagens e pelo impacto que o trabalho do Vik teve na vida dos catadores, aquilo que ao ínicio é apenas uma obra com muito talento ganha uma dimensão que vai muito para além da mestria no uso dos materiais.

Depois de ter visto a exposição e o documentário, não me foi possível ver a noticia e ficar indiferente. Texto e contexto.