Barba Azul - Parte IV - A explicação
Se o facto de publicar o conto do "Barba Azul" já era confuso para a maioria dos leitores, revelar que me chamam Barba Azul no IST deve ter sido a "gota de água".
- Porque é que algumas jovens [ainda por cima!] do IST me chamam Barba Azul?
- Porque é que publiquei este conto?
- Qual a relação entre este conto e o actual contexto sócio-económico?
Certo dia, algures em Dezembro, estava num café do IST quando apareceram a Paki e a Pipinha [blarg, raios de nomes!]. Estávamos em plena pré-época de exames pelo que, como sujeito estudioso que sou, deixei crescer uma pujante e viril barba. Associado a este facto, estava com um cascecol e com uma camisola azul-escura. Qual foi a primeira coisa que a Paki me diz?
"Pareces o Barba Azul!"
Na altura fiquei em estado de choque:
"Atão, mas... eu que não faço mal a ninguém!"
Ninguém ficou a perceber o que se passava porque na realidade são todos uns incultos. Dessa maneira comprometi-me a escrever a história no blog.
Quando me lembrei de escrever a história no blog, tencionava fazer um copy-paste de um qualquer site. Pensei que seria fácil encontrar o conto... mas não o encontrei... encontrei algo muito melhor... A SUBMISSÃO FEMININA NA SOCIEDADE PATRIARCAL - um mega texto com uma análise ao conto de Perrault, que contém esta magnífica passagem:
"No conto de Perrault conhecido como Barba Azul, apesar de hoje excluído das histórias infantis devido à violência e também por não apresentar crianças como personagens [...]"
Ora bem, a análise ao conto começa por classificar o conto por "violento" e aponta como falha grave não ter crianças pelo meio.
A análise continua, com algo que nunca me passaria pela cabeça;
"Em histórias infantis como O Gato de Botas, O Pequeno Polegar e Riquê do Topete, o papel desempenhado pelas mulheres era insignificante, ficando evidente a sujeição feminina aos caprichos e desígnios dos homens."
E a magnifica análise acaba com a cereja em cima do bolo:
"Outro bom exemplo seria a produção cinematográfica [...] Shrek 2 [...].
Em sua segunda versão, o ogre verde retorna às suas aventuras, mas desta vez casado com uma princesa chamada Fionda, “que por amor adotou a mesma forma do amado” (BOSCOV, 2004: 119). Embora este não seja o principal enfoque do filme, tal acontecimento mostra [...] a privação feminina de sua verdadeira forma física em relação ao homem, revelando deste modo que ainda que por amor, quem tem sempre que ceder é a mulher."
Gostaria de começar a minha análise dizendo que li todos os contos referidos [excepto o Riquê do Topete] em criança. Não considero que, de maneira alguma, isso tenha afectado a minha maneira de interpretar o papel da mulher na sociedade.
Para mim a igualdade entre sexos [e já agora, raças] foi sempre tão evidente que em miúdo a ideia de racismo e discriminação de sexos não me fazia sentido. Pode parecer muito inocente mas resulta de ver as coisas de uma maneira muito lógica.
Quando, em criança, lia estes e outros contos, limitava-me fazê-lo de uma maneira puramente lúdica. Jamais teria capacidade para fazer interpretações paralelas. Será que as crianças de hoje são mais inteligentes/sensíveis do que nós eramos no nosso tempo e por isso precisam de ser protegidas?
Se é verdade que estes contos espelham uma cultura e uma maneira de pensar muito próprias de uma certa época, os eventuais danos que possam surgir da sua leitura só podem ser imputados aos educadores.
A demonização destes contos revela a perversidade, não dos autores, mas das mentes que examinam cada promenor em busca do sacrilégio.
Onde é que se pretende chegar com isto? Protegem-se as crianças da violência do "Barba Azul" ao mesmo tempo que se permite a inocência e pureza de um Dragon Ball?
Não quero tornar o texto muito longo. Para concluir gostava de apelar à razoabilidade destes "educadores" zelosos. Será que uma série ou um filme mais violento não constitui um problema? Aos olhos destas mentes "puras" pelos vistos não, visto que toda e qualquer mensagem está declarada explicitamente. Mau mau é a opressão da mulher patente em lendas como a "Padeira de Aljubarrota". Lá está o estereótipo da mulher oprimida, obrigada a andar com uma pá de fazer pão até numa batalha! Vergonhoso! ... =P
Para concluir, digo-vos que este tema esteve a debate enquanto se tomava um café no IST. Sobre o proteccionismo exagerado a amiga Paki disse [e bem]:
"Com tanto proteccionismo, qualquer dia nem se fala de drogas aos filhos, para não se assustarem nem para ficarem com ideias erradas. Claro que com isto qualquer mãe arrisca-se a perguntar ao filho "então, como foi o teu dia de escola?" e a receber como resposta:
"Foi bom mãe! Hoje experimentei uma coisa nova muito boa!"
Claro que o amigo Kewne tinha que se sair com uma resposta ainda mais genial em relação ao mesmo tema:
"Pai, hoje fiz sexo pela primeira vez!"
"Ai sim filho?! Então senta-te aqui e conta-me lá como é que isso aconteceu..."
"Ai não posso pai, ainda me doi o cú!"
...